quinta-feira, janeiro 18, 2007

O País dos Miseráveis que se Julgam Ricos

Nós portugueses arranjamos sempre formas curiosas de vencer as adversidades. Aproveitando os juros baixos endividámo-nos até às orelhas para comprar casa, carro e passar férias no Brasil. Carregámos no saldo do cartão de crédito para comprar as prendas de Natal e pagar a farra de fim de ano.
Como pensamos pagar isso tudo com salários baixos que há 5 anos ou não sobem ou sobem bastante abaixo da inflação? Como aguentamos as constantes subidas de tudo e mais alguma coisa (só o seguro do carro irá baixar)? Como pagararemos o défice do Estado?
Soube há dias que somos os campeões das apostas no Euromilhões. Estranha forma de vencer a crise! Os ricos jogam milhares de euros em jogatanas privadas animados nos intervalos por umas snifadelas de pó branco (o preço da cocaína também desceu) misturadas com whisky velho. Os pobres recorrem ao fácil mas ruinoso crédito telefónico para conseguir uns (poucos) milhares de euros pagos a juros dos anos oitenta!
A seguir aos filandeses somos os que temos mais telemóveis. Estamos também entre os que têm mais carros per capita, o que tem lógica se pensarmos que os nórdicos que ganham quatro vezes mais andam de bicicleta!
Será que isto tem remédio?
Pelo menos desde D. Manuel I que vivemos acima das nossas posses. Quando há dinheiro esbanja-se, quando não há aperta-se o cinto, vendem-se os anéis (sempre ficam os dedos) e mete-se a prata no penhor. No século XVI a maior parte dos sapateiros de Lisboa eram flamengos ou italianos porque os salários eram altíssimos e os nossos artesãos não queriam trabalhar. A comida tinha tantas especiarias que os convidados estrangeiros das famílias nobres se retiravam dos banquetes a meio para vomitar...
Nem se pode dizer que sejamos preguiçosos. Um bocadito desleixados com os detalhes talvez. Somos até fortes na arte do desenrascanço. Improvisamos melhor do que planeamos. Adoramos é a pobreza dourada: comer fiado em serviço de porcelana, usar roupa de marca contrafeita, guiar carro de luxo importado podre de velho, andar de taxi até meio do mês.

1 Comments:

Blogger Carla said...

Parabéns, o artigo faz jus ao nome do blog, mas que povo este, não? Tocaste mesmo na ferida, tanto queremos ser ricos que acabamos por expôr as nossas misérias, não é? Esse teu espírito crítico é importante, continua...

20 de janeiro de 2007 às 22:57  

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