domingo, março 18, 2007

Macacos me mordam

A minha mãe (hoje uma velhota frágil) levava-me sempre pela mão quando ia comprar tecidos à Baixa. De caminho pedia-lhe que me comprasse mais um carrinho em miniatura. Dias havia que ela me dizia "hoje não pode ser..." E eu aceitava, sem birras, sem lágrimas. Ao contrário dos putos actuais que têm tudo o que querem e sentem-se infelizes. Eu concentrava a minha atenção na mestria dos movimentos do empregado da loja de tecidos a medir a peça com aquele metro de madeira com pontas de metal, a enorme tesoura a ranger sobre a madeira sulcada do balcão para o corte inicial depois aberto com a elegância do movimento dos braços, a simpatia do "Madame, que mais vai desejar..." A Madame, minha mãe, desejava apenas que o marido, meu pai, aceitasse o preço pago para uma elegância de casamento ou baptizado, ele que achava sempre tudo caro!
Soube hoje pela TV que a loja vai fechar. O senhor que tratava minha mãe com elegância francesa vai para a reforma. Outros mais novos mas demasiado velhos para arranjarem novo emprego irão para o desemprego. E um bocado saboroso da minha infância será remetida para as memórias dum puto calado. Fecha tudo, tudo o que ainda tem significado nas nossas vidas. Quando é que isto pára?

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