quarta-feira, abril 08, 2009

Tachos



Há dias estava na ilha de Faro a comer um arroz de lingueirão (canivetes) quando me ocorreu escrever sobre o recipiente onde o pitéu fora servido. Aquele era um tacho igual a tantos outros, em alumínio, duas pegas laterias e outra na tampa, com umas quantas pequenas amolgadelas causadas pelo uso itensivo no restaurante.

Os "tachos" da nossa vida política, social e empresarial são bem diversos, consistindo em lugares, nomeações e favores concedidos aos amigalhaços, a afilhados, à família ou até a meros vizinhos, o "pessoal" lá da terra. São empregos com pouco ou nenhum trabalho, ordenados chorudos e mordomias caídas em desgraça nestes tempos de crise.

O tacho é uma das causas do nosso atraso. Se um cargo não é atribuído á pessoa mais capaz para o desempenhar então ficará entregue a alguém impreparado, frequentemente um incompetente, às vezes mesmo um corrupto. Alvo de troca e reciprocidade, o favor obtido pela "cunha" ou pedido, nunca vem só, inicia ou faz parte de uma panóplia de jogadas. O tacho é uma praga, a cunha um cancro, os padrinhos uma instituição tipicamente siciliana, tudo faz parte de um fenómeno, que grassa na sociedade portuguesa e cujos efeitos são mais visíveis quando as coisas deixam de correr bem, chamado corrupção.
A atitude oposta da que conduz a estas práticas é frequentemente apontada sob a designação de "transparência", mas mesmo esta não está imune à simulação e ao fingimento. Os ilusionistas usam-na para executar os seus truques!
A única semelhança entre os verdadeiros tachos e os lugarinhos confortáveis atribuídos por compadrio é que ambos queimam quando estão quentes. Esperemos pelo verão...

2 Comments:

Blogger Petra said...

Bela filosofia sim sim.
Pois mas isto não é somente em portugal que acontece lol

12 de abril de 2009 às 01:09  
Blogger caosarnento said...

Pois não Petra, mas que eu saiba somos os únicos a usar a expressão "tacho" neste sentido. Enquanto o benefício ilegítimo de uma regalia não for socialmente censurado (como acontece nos países nórdico) este "cancro" continuará a corroer a sociedade portuguesa.

14 de abril de 2009 às 01:27  

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