terça-feira, abril 14, 2009

Pastor qualificado - precisa-se




Uma cooperativa do Ribatejo anunciou que tinha um lugar para pastor. Oferecia 1000 € por mês de ordenado, mas exigia uma licenciatura! Por mim acho bem. Tendo em conta que a cabra é um bicho difícil de lidar até me parece adequado que o pastor possua um grau académico elevado. Primeiro pensei que se tratava de mais uma treta do 1 de Abril mas depois verifiquei no calendário e vi que era mesmo a sério. Mais convencido fiquei quando assisti na TV à reportagem com um licenciado farto de trabalhar num bar e que agora se deleitava com as longas horas de contemplação reflexiva proporcionadas pelo seu novo posto de trabalho. Dizia o nóvel pastor que antes levava uma vida muito setressada e agora podia relaxar. É o que nos faz falta a todos (relaxar) para ver se largamos a primasia na lista dos povos ansiosos, deprimidos e frustrados.

O único problema é mesmo o bicho que se tem de apascentar, é que se as ovelhas ainda vão para onde o cão do rebanho as manda, com as cabras é uma história diferente, porque a cabra faz literalmente o que lhe passa pela cabeça e, quando contrariada, não se ensaia nada para arrear uma valente cornada em quem se lhe atravesse no caminho. Falo por experiência própria. Conheço bem as cabras quer em sentido literal quer em sentido figurado, se bem que estas últimas apresentem requintes de crueldade, maldade, perversão e estupidez sem par no mundo da animalidade.

Caro leitor, caso pense mudar de vida aderindo ao bucolismo campestre aconselho-o vivamente a arranjar um cajado robusto susceptível de ser arremessado a longa distância sem se partir, porque os cães de rebanho que conheci recusavam-se liminarmente a auxiliar pastores de cabras, pelo que o único recurso para estes profissionais é mesmo o cajado e o domínio de o atirar pelos ares de forma certeira às cabras que contrariem as suas pastoris directivas roendo despudoradamente a casca das árvores, arte em que o gado caprino é useiro e vezeiro. Caso considere um relacionamento com uma "cabra humana", cuidado, toda a prudência será pouca, o melhor mesmo é pensar duas vezes e optar por alguém com um temperamento mais cordato, mais meiga, mais razoável.

Tragédia lusitana


O que teria acontecido se o PS não se tivesse visto envolvido no escândalo da Casa Pia com a constituição de Paulo Pedroso como arguido, o que fez Ferro Rodrigues sentir-se politicamente atingido e fragilizado. Tudo poderia ser muito diferente. Ferro poderia ter ganho a Durão nas legislativas, este por seu lado nunca teria chegado a Presidente da Comissão Europeia e Santana Lopes nunca seria chamado a substituí-lo tornando-se aquela nódoa de Primeiro-Ministro.
Dizem os ingleses que não adianta chorar sobre leite derramado, mas importa retirar lições para o futuro. Não deverá ser possível fabricar uma investigação judicial atentatória do bom nome de um candidato a chefe do governo ou de um já em exercício de funções. Sabe-se hoje que foram agentes da Judiciária próximos dos partidos de direita a usar a trapalhada da Casa Pia para aingir o PS. O resultado foi aparecer em sua substituição um (Sócrates) Pinto de Sousa sem uma Ideia para o país e com um único objectivo - reduzir o defice público abaixo dos 3% - o que conseguiu, mas para agora nos deixar com um valor idêntico ou mesmo superior. Prometeu não mexer nos impostos e aumentou vários. Tornou a saúde e a justiça caras e inacessíveis à maioria da população portuguesa. Erigiu as classes socio-profissionais em culpados dos problemas do país e do mau estado dos respectivos sectores. Não preparou o país nestes 4 anos para o embate da crise, primeiro financeira, depois económica, agora uma recessão com uma quebra do PIB que o Banco de Portugal prevê venha a atingir os 3,5%. Mantém teimosamente os projectos faraónicos do TGV, aeroporto em Alcochete, 3ª travessia do Tejo e 3ª auto-estrada Lisboa-Porto, como trunfos para sair da crise, quando os investimentos na mobilidade raramente são produtivos. Quiseram fazer uma revolução na Educação com o classmate da Intel rebaptizado parolamente de "Magalhães" mas não cuidaram dos conteúdos multimedia recheados de erros de português. Fecharam centros de saúde por esse país fora e puseram as grávidas a ter os filhos em Espanha. Interferiram em investigações judiciais como a do caso Maddie numa atitude de subserviência em relação ao governo Inglês que já não se via desde o Ultimato de 1890. Fizeram leis avulsas à pressa apenas para mostrar trabalho. Em breve seremos o país com mais km de AE por habitante e mais m2 de centros comerciais e hipermercados mas também com o mais elevado consumo de anti-depressivos per capita. D. João V também se orgulhava do Covento de Mafra que hoje alberga uma das maiores colónias de ratazanas da Europa!

quarta-feira, abril 08, 2009

Tachos



Há dias estava na ilha de Faro a comer um arroz de lingueirão (canivetes) quando me ocorreu escrever sobre o recipiente onde o pitéu fora servido. Aquele era um tacho igual a tantos outros, em alumínio, duas pegas laterias e outra na tampa, com umas quantas pequenas amolgadelas causadas pelo uso itensivo no restaurante.

Os "tachos" da nossa vida política, social e empresarial são bem diversos, consistindo em lugares, nomeações e favores concedidos aos amigalhaços, a afilhados, à família ou até a meros vizinhos, o "pessoal" lá da terra. São empregos com pouco ou nenhum trabalho, ordenados chorudos e mordomias caídas em desgraça nestes tempos de crise.

O tacho é uma das causas do nosso atraso. Se um cargo não é atribuído á pessoa mais capaz para o desempenhar então ficará entregue a alguém impreparado, frequentemente um incompetente, às vezes mesmo um corrupto. Alvo de troca e reciprocidade, o favor obtido pela "cunha" ou pedido, nunca vem só, inicia ou faz parte de uma panóplia de jogadas. O tacho é uma praga, a cunha um cancro, os padrinhos uma instituição tipicamente siciliana, tudo faz parte de um fenómeno, que grassa na sociedade portuguesa e cujos efeitos são mais visíveis quando as coisas deixam de correr bem, chamado corrupção.
A atitude oposta da que conduz a estas práticas é frequentemente apontada sob a designação de "transparência", mas mesmo esta não está imune à simulação e ao fingimento. Os ilusionistas usam-na para executar os seus truques!
A única semelhança entre os verdadeiros tachos e os lugarinhos confortáveis atribuídos por compadrio é que ambos queimam quando estão quentes. Esperemos pelo verão...