Usura alemã

Ainda estou em estado de choque.

Li ontem no Correio da Manhã que a Alemanha lucrou 41 mil milhões de euros com os programas de ajuda à periferia (leia-se Grécia, Irlanda e Portugal).

Numa conversa de esplanada no Algarve tentava explicar a um cidadão britânico como os alemães estavam a lucrar com os programas de resgate na Zona Euro, como a Chanceler Merkhel anunciava em período eleitoral programas de assistência social parecidos com aqueles que a Troika proíbe em Portugal, como os reformados alemães se preparavam para gozar reformas douradas à conta dos cortes nas pensões dos países do "Arco Mediterrânico" quando o meu interlocutor me atirou incrédulo:

_ How can that be?

_Yes, they (the germans) can do it, because they rule over EuroZone! 

Sim, os alemães dominam porque nós (portugueses, espanhóis, franceses, italianos, irlandeses e gregos) deixamos. Sim dominam porque têm excedentes orçamentais que aplicam nesse negócio promissor de especular com a dívida dos países mais fracos.

Isso tem algo a ver com o ideal europeu dos construtores da Europa que idealizaram uma união económica (inicialmente apenas do carvão e do aço, a CECA) sobre os escombros da 2ª Guerra Mundial e os alentos permitidos pelo Plano Marshall, o mesmo que Salazar recusou?

Não, não tem. Mas por enquanto é assim...
 

O crescimento do 2º trimestre

A economia portuguesa cresceu 1,1% no último trimestre. O número alcançado surpreendeu os economistas que previam um crescimento entre 0,3 e 0,6% do PIB. 

O Ministro da Economia demissionário (ou se preferirem "remodelado") Álvaro Santos Pereira passou os últimos dois anos a anunciar a saída da recessão. Em vão. Antes dele já os ministros socialistas desde que estalou a crise de 2008 nos EUA anunciaram sucessivamente o brilho de uma "luz ao fundo do túnel". Questão de fé certamente. 

Desta vez os ministros do actual governo foram cautelosos. Saudaram a "novidade" mas avisaram que era ainda cedo para decretar o fim da recessão. Na realidade trata-se de uma depressão pois já se arrasta há vários anos com a pior queda de sempre do PIB no 1º trimestre de 2013 a atingir os 4%. Será que já batemos no fundo?

Ninguém pode dizer ao certo.

Podemos ter "desejos" mas mais nada. "Wishful thinking" em versão inglesa.

É preciso lembrar que este ano ainda não foram implementadas novas medidas de austeridade. 

Os cortes que estão na forja no valor de 2 mil milhões de euros não deixarão de atirar novamente a economia ao tapete pois vão actuar directa e negativamente sobre a procura interna.

Machetadas

Rui Machete, detentor de um currículo invejável, foi recrutado por Passos Coelho para substituir Paulo Portas nos Negócios Estrangeiros.

Os reforços deste Governo estão todos contaminados. Uns andaram a tentar vender SWAPS ruinosos ao Estado, outros fizeram negociatas chorudas com a S.L.N. (Sociedade Lusa de Negócios) dona do B.P.N. e outros enfiados em P.P.P. até às orelhas.

Segundo a edição deste sábado do Expresso Machete comprou um lote de ações para ele mais baratas do que para a F.L.A.D. de que foi administrador durante anos. Já sabíamos que os "amigos" e "compagnons de route" de Cavaco iam sacar dinheiro ao B.P.N. como se fossem buscar pão quente à padaria da esquina. Dinheiro entregue em malas e pacotes sem recibos assinados, empréstimos sem fiador nem garantias, dinheiro que está a ser pago pelos contribuintes portugueses e já vai em 4 ou 5 mil milhões de euros!

O B.P.N. foi "nacionalizado" a S.L.N. não. O osso ficou para os contribuintes, a carninha para os acionistas da S.L.N.

O caso Machete é só mais uma machadada na árvore do nosso contentamento, nesta democracia falida e podre que está por um fio.

O país das açordas... ou dos SWAPS

O entendimento entre CDS/PSD e PS forçado por Cavaco fracassou. Nada que não fosse expectável.

Portas provocou a crise de governabilidade e ganhou tudo o que queria tornando-se vice-1º Ministro e coordenador da área económica responsável pelas negociações com a Troika.

Presente envenenado, dizem alguns. É possível.

Depois de exigir o afastamento de Gaspar agora é altura de Portas provar que sabe fazer melhor. E conseguirá?

Passos Coelho escolheu Maria Luís Albuquerque para fazer Portas amargar a sua vitória de Pirro, mas nesta manobra acabou por se enlear nos meandros obscuros dos SWAPS. "Economia de Casino" como disse Louçã quando ainda era líder do Bloco de Esquerda.

Acaba de cair um secretário de estado da confiança de Mª Luís Albuquerque. Nem interessa recordar o nome, cairão muitos mais como este, empacotados à pressa dentro de um fato azul-escuro para serem imolados no altar dos cordeiros do neo-liberalismo. Este trabalhava no Citibank e parece que andou a tentar vender SWAPS ruinosos ao governo de Sócrates que, num raro assomo de bom senso, os rejeitou.

Há quem vá de férias e deixe a casa à guarda de um ladrão, há quem defenda que a maior especialista em galinhas é a raposa que as rouba do galinheiro desprotegido, há quem sustente que quem vendia SWAPS é o mais indicado para agora os renegociar.

Que bela açorda cozinhou esta maioria para saborearmos neste Verão invulgar!