segunda-feira, fevereiro 25, 2013

O "de" e o "da"

A história da lei de limitação de mandatos consecutivos dos presidentes de câmara municipal e de junta de freguesia publicada com a troca de dois "da" por dois "de" é um excelente barómetro da qualidade do "pessoal" político que vagueia pelas fileiras dos partidos do arco do Poder à espera de ser incluído nas listas eleitorais.
Os deputados de 2005 (?) aprovaram a lei sem saberem (ou sabendo bem demais) a diferença entre a preposição e a forma contraída da mesma com o artigo definido.
Discute-se agora o espírito da lei quando o que interessa é aquilo que nela está escrito.
Há quem pretenda apurar responsabilidades (A. J. Seguro): a I. N. C. Moeda já veio dizer que se limitaram a uma correção automática do texto autorizada por lei. Pelos vistos os deputados escreveram coisa diversa do que queriam fixar na lei e os tipógrafos corrigiram. Deviam estar agradecidos. Eu fico quando me enganoe alguém me corrige, mas eu não sou deputado nem político.
Faz falta uma pitada de humildade e um pouco mais de atenção ao que se faz.
 

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Relvice

Relvas, o ideólogo de Passos Coelho, reapareceu após um período de recolhimento mediático.
Foi ao Clube dos Pensadores em Gaia, insultaram-no e não o deixaram falar! Ontem, no ISCTE cantaram-lhe "Grândola, Vila Morena" e colaram-lhe os cartazes da indignação ao nariz.
Não lhe vão dar descanso. O movimento "Que se Lixe a Troika" já o prometeu.
Onde quer que vá, onde apareça e haja público...
 

terça-feira, fevereiro 19, 2013

A corda esticada

Passos Coelho usou esta analogia para dizer que não tenciona aplicar medidas de austeridade adicionais. "A corda já está esticada", disse. 
A declaração até pode tranquilizar os mais incautos.
A mim não me sossega, porque este Governo usa e abusa das técnicas de contra-informação. Manda os sequazes das redações dos jornais amigos escrever que vai dispensar 50.000 funcionários-professores, deixa a marinar e depois lá apanham Nuno Crato numa visita a um centro profissional que declara "Nós não somos irresponsáveis, essa medida não está em estudo." Não são? Mas os "funcionários" da Troika a quem encomendaram o estudo ou o são ou foram mal informados pelo Governo. Acrescentaria "deliberadamente" mal informados.
No mesmo dia das mencionadas declarações de Passos Coelho soube-se que o Governo estuda aplicar novas tabelas de remuneração à Função Pública. Mais reduzidas, é claro. O pouco que devolve com uma mão (1 subsídio) tira com mais impostos e com nova redução de ordenados. Não é esticar a corda, é enrolá-la ao pescoço da gente e puxá-la.
 
Governo ladrão
rouba sem perdão
ao pobre o pão
ao rico a ilusão
 
A corda, essa, vai continuar a esticar, como se fora elástica.
Elástica não será a paciência do povo...
 
 
 
 
 

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

1 milhão de desempregados sem subsídio

Este dado ofusca as outras novidades da semana como a invulgar resignação do Papa Bento XVI, a crise no Sporting ou a camisola do árbitro puxada pelo Cardozo.
Este número "colossal" de desempregados sem o apoio necessário deveria tirar o sono a todo o governante consciente.
A mim tira e não sou governante! Talvez porque não haja família em Portugal que não tenha alguém nestas condições. A minha tem.
O desempregado de longa duração já carrega nos ombros com uma pressão psicológica terrível: a de se sentir inútil. Suporta a suspeita injusta de ser um preguiçoso a quem não apetece trabalhar. Em tempos de recessão o panorama é ainda mais negro: quem é que consegue arranjar emprego? Só através de conhecimentos pessoais, a chamada "cunha", um dos cancros do "arco" mediterrânico.
O Primeiro-Ministro falou hoje no Parlamento da sua preocupação, disse que o Governo estava a estudar mudanças em relação à situação destes portugueses. A Oposição (B.E.) propôs o prolongamento do subsídio de desemprego sem limite de tempo, mas Passos Coelho respondeu que não há dinheiro para isso.
A taxa de suicídio (leia-se do desespero desesperado de vez) vem aumentando desde o início da austeridade e acompamha o aumento da taxa de desemprego (e outras taxas como a do crédito mal parado).
17.000 emigraram em 2012 para a Suíça. Os suíços ponderam agora fechar a porta aos cidadãos dos países mediterrãnicos com já fez há algum tempo aos do Leste da UE. Outros voam para o Emirados ou para Inglaterra... Gotas de água que pouco baixam o copo a transbordar.
Portugal ainda vai ser viável.
As casas abandonadas pelos mortos, pelos velhos internados em lares de 3ª idade e pelos emigrados podem ser alugadas ou vendidas a reformados estrangeiros em busca de sol todo o ano. Vão dar-lhes até incentivos fiscais para que se mudem para cá.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Franquelin Alves

É o último fait divers da nossa cena política.
Passos deve ter ido buscar esta personagem singular ao baú dos tecnocratas errantes.
No curriculum oficial do senhor havia uma omissão, quase um mero detalhe sem importância, a sua passagem pela administração da SLN proprietária do BPN.
O PCP e o Bloco de Esquerda, e, mais tarde, o PS, vieram exigir explicações, insurgiram-se contra esta escolha para secretário de estado, tendo os comunistas apelado ao Presidente da República para não empossar o dito.
O pelouro é sugestivo: Secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação. 
O senhor quando foi administrador da SLN já haviam sido praticadas o grosso das aldrabices no BPN pelo que não se lhe pode assacar responsabilidades por elas, o problema foi o tempo que a administração de que fazia parte demorou a avisar o Banco de Portugal. Acabou por nem ser um aviso mas tão só a resposta a um pedido de informações.
O dono da Jerónimo Martins já veio dizer que o Sr. Franquelin era pessoa competente e idónea e que lamentaram a sua saída do Grupo.
O que eu acho engraçado é ainda se esperar ética por parte dos nossos governantes. Este caso espelha na perfeição as conivências e as cedências do "pessoal" afeto aos dois principais partidos do poder. O BPN tornou-se o principal sugadouro de recursos financeiros dum país à beira da bancarrota. O banco onde os amigalhaços do Oliveira e Costa iam sacar dinheiro em malas de viagem, o banco que transgrediu impunemente todas as regras da sua actividade, o banco que inventou um paráíso fiscal em Cabo Verde com o Banco Insular.

 
 


segunda-feira, fevereiro 04, 2013

O mal do cimento

Em Espanha acaba de estoirar um escândalo. Na sequência de um artigo do El País, o Partido Popular, atualmente no Governo, está a ser investigado pelo recebimento de verbas pelos políticos, nomeadamente o chefe do executivo Mariano Rajoy, pagas pelas empresas de construção civil.
Espanha teve taxas de crescimento económico apreciáveis nos 10 anos anteriores à crise de 2009 à custa dos negócios urbanísticos. Chegaram a fazer uma lei que obrigava os proprietários a urbanizar e construir, ou em alternativa venderem, caso possuíssem terrenos em zonas declaradas de interesse público.
A "bolha" imobiliária rebentou. Multiplicaram-se as cidades fantasma. A quantidade de penhoras obrigou a  fazer uma lei que evitasse os suicídios dos que não conseguem pagar a sua casa. Agora os construtores já não ganham nada em subornar os políticos para aprovarem os seus projetos, mas justamente agora vieram a público os "caderninhos" manuscritos ao estilo "deve-e-haver" daquele que foi o contabilista do PP na região de origem de Rajoy -- a Galiza. Cresce a indignação na opinião pública. Os socialistas pedem a demissão de Mariano Rajoy como se eles não tivessem telhados de vidro. Aliás, uma sondagem apurou que 85% dos espanhóis perderam a confiança na classe política. Se a isto somarmos a degradação da imagem do Rei (caçadas no Botswana), de Iñaki Urdangarin, genro do rei Juan Carlos de Espanha* (desvio de dinheiros de uma fundação) e da Infanta sua esposa temos um caso sério de democracia em risco.
Por cá não se pode dizer que a situação seja comparável, mas temos alguns casos de especulação imobiliária associada a bancos em dificuladdes (BPN-Duarte Lima) e financiamento ilegal de partidos, mas a História recente mostra paralelismos temporais entre o que acontece nos dois países ibéricos com influências mútuas: transição para a democracia (1974-5); adesão á União Europeia (1986); entrada no Euro... 
 
* Lapso corrigido na linha 16.

domingo, fevereiro 03, 2013

Ulrich, o sábio

"Aguenta, aguenta" disse ele sobre a capacidade de o povo português suportar mais austeridade. Entretanto veio explicar que não estava a defender a adopção de  mais medidas de austeridade dado que isso depende dos nossos credores e do comportamento da economia. Mais disse que qualquer um de nós se podia tornar um sem-abrigo (ele incluído!). Não sei se estava a ser sincero... Não conheço ninguém que acredite na hipótese de Ulrich se tornar um sem-abrigo, mas é verdade que a maioria dos cidadãos poderá enfrentar tais provações caso se conjuguem um conjunto de factores: perda do emprego, despejo da casa, abandono pela família e amigos, perda da capacidade de lutar.
Banqueiros irresponsáveis sentem-se à vontade porque quando a vida lhes corre mal logo vem o Estado (não o social, mas o financeiro) a salvar-lhes o coiro para evitar o "alarme" e a corrida aos depósitos bancários. O cidadão comum se fizer asneira grossa no emprego vai mesmo para a rua e o Estado não o salva das contrariedades inerentes.
 
 
O caso é que algumas pessoas não aguentam mesmo.
queles que saem da vida pela porta do suicídio não aguentaram. 
Quem foi forçado a emigrar não aguentou. 
Os que se encharcam em ansiolíticos e antidepressivos fazem-no para conseguirem aguentar.
E aguentam mal.
Daniel Oliveira (Eixo do Mal) é bem capaz de ter razão quamdo lhe chama "idiota".
Ulrich para não "ver" esta realidade ou é mesmo idiota ou muito estúpido!
 

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Costa contra (in)Seguro

As "inteligências" do PS afetas ao senhor que se autoexilou em Paris (Sócrates) decidiram que este era o momento indicado para discutir a liderança do maior partido da Oposição. Parecia terem candidato (António Costa). A "faísca" que fez deflagrar o incêndio socialista foi o anúncio precipitado de Seguro de que já tinha governo preparado no caso da coligação PSD/CDS-PP estoirar. Deve ter havido socialistas socratianos com medo de ficarem de fora...
Entretanto como a nossa cena política é liliputiana bastou o sucesso do regresso aos mercados de dívida pública para o Governo se sentir mais sólido do que nunca.
Convocada a Comissão Política do PS esperava-se o avanço de António Costa para a disputa da liderança, mas afinal a "montanha" pariu um rato, ou seja, um abraço para a posteridade e um ultimato (coisa feia entre "compagnons de route") com prazo de 10 dias para o actual líder conseguir congregar todas as facções em torno de objectivos comuns. Parece-me uma tarefa hercúlea para não dizer impossível.
O que o país precisa neste momento difícil é que o maior partido da oposição saiba o que quer, apresente propostas para resolver os problemas, se afirme como alternativa credível e não uma chusma de gananciosos preocupados com o lugarzinho que lhes caberá após uma futura vitória eleitoral em legislativas.