segunda-feira, abril 30, 2007

Ota-rios

Confesso que não esperava uma trapalhada deste calibre, com esta história mal amanhada do "Sr. Engenheiro". Claro que a Constituição não prevê a necessidade de se possuir um título académico superior para se exercer o cargo de 1º Ministro. Aliás temos sido tão mal governados que não seria má ideia experimentar um só com o curso dos liceus...
O caso é que o currículo apresentado pelo "senhor" enquanto deputado invocava uma qualidade que na altura não possuía. Em países civilizados uma declaração falsa ou simplesmente inexacta é o suficiente para perder o mandato, levar à demissão, fazer desistir da carreira política.
Em Portugal não. Nada tem consequências. Nem o Procurador acha que tem alguma coisa para investigar, nem o Presidente acha relevante a questão para o desenvolvimento do país. Estão todos certos. Talvez seja por isso que se vai gastar muitos milhares de milhões para fazer um aeroporto internacional em cima dum pântano ou um TGV que pára em todos os apeadeiros até Badajoz. Saía mais barato um aeroporto para companhias low cost no Montijo ou no Poceirão e um parque de estacionamento em Elvas para ir lá apanhar o TGV. É que já há gente que vai de camioneta a Sevilha apanhar o avião porque sai muito mais barato que deixar o carro no parque da ANA uma semana no de Lisboa e pagar cento e tal euros!
Querem uma plataforma giratória virada para o Atlântico quando no outro dia esperei duas horas vindo de Roma para recolher as malas que apareceram misturadas com um voo da Terceira e outro de Frankfurt. Alguns passageiros furiosos pontapearam o tapete rolante, o que costuma fazê-los avariar com alguma frequência. Gostamos tanto de elefantes brancos!

quarta-feira, abril 25, 2007

Medo ou os limites da salvação

Os meus anteriores dois posts não eram sobre o medo. Nem sobre o medo de conhecermos o nosso íntimo. Eram escritos sobre aquilo que qualquer um de nós pode fazer para ajudar alguém em desespero. Não sou psicólogo, nem me acho especialmente dotado para este tipo de missão, apenas acho que sendo todos humanos podemos estender uma mão amiga...
A imagem do afogado invoquei-a quase de forma subconsciente, mas teve a virtualidade de um dos leitores que me conhece e é nadador-salvador me alertar para o facto de quando se salva alguém no mar é preciso cautela para não ir ao fundo com a pessoa e morrerem os dois. Disse-me esse amigo que é preciso aproximarmo-nos da pessoa pelas costas para evitar que se agarre ao nosso pescoço e nos afunde.
E como se faz isso na vida?
É mais complicado, muito mais! Não por medo de nos conhecermos, mas porque ao conhecermos os nossos limites estamos a interferir nos limites de quem está em risco (ou diz que está...). A Graça tem razão o medo é uma doença como o cancro, mas é também aquilo que na vida nos preserva, nos mantém alerta, evita erros, erros que podem custar caro. É preciso cuidado há quem se aproveite da bondade alheia. Choca, mas há...

sexta-feira, abril 06, 2007

Até onde?

Não conheço Sara (nome fictício) pessoalmente. Sei por interposta pessoa amiga de que vive e se encontra bem, razoavelmente bem.
Todos nós podemos fazer alguma coisa quando alguém amigo ou conhecido está em perigo. Muitas vezes não fazemos nada por pensar que nada podemos, por querer evitar mal entendidos, afinal envolvermo-nos é sempre um risco. Mas valerá a pena corrê-lo? Até que ponto estamos dispostos a ir? Já alguma vez arrsicámos um mergulho à noite na praia sem luar e sem conhecer o local? Sabe tão bem a saída da água escura e fria, a corrida para a toalha salvadora...
O medo está em todo o lado, somos forçados a viver com ele, mas conseguimos enfrentá-lo?
Todas as vidas, cada vida, valem o mesmo. Isso significa que a minha vale exactamente o mesmo que a de alguém disposto a acabar com a sua por não encontrar saída, por não ver uma luz ao fundo do túnel, por não ter um ombro onde encostar a cabeça (ainda há dias precisei eu de um... e tive-o em de quem menos esperava!).
Até onde estamos dispostos a ir para ajudar alguém? Esta a pergunta que me roda dentro da cabeça desde que soube da Sara. Até onde? Que cada um faça esta pergunta a si próprio e encontre a resposta que eu encontrei. Pode-se estar na praia a gozar o sol e quando menos esperamos somos os primeiros a ver alguém a afogar-se... e não teremos tempo de pensar, à nossa frente apenas o mar revolto e a bandeira vermelha do instinto da auto-preservação.
Até onde?...